sábado, 30 de março de 2013

Prece Irlandesa


'' Que a estrada se abra à sua frente.
Que o vento sopre levemente em suas costas.
Que o sol brilhe morno e suave em sua face.
Que a chuva caia de mansinho em seus campos,
e até que nos encontremos de novo, 
que Deus lhe guarde nas palmas de Suas mãos."


domingo, 24 de março de 2013


Conversei com os meus pais e com a benção deles decidi que passaria uns dias sozinha, pois, em quase 23 anos de vida, eu NUNCA fiquei sozinha. Meus pais não são os tipos de pais que deixam os filhos sozinhos em casa para viajar, eles são os tipos de pais que, no máximo, ficam o dia todo fora trabalhando, mas no final do dia estão de volta, às vezes até com uma imensa pizza quatro queijos como brinde. Por esse motivo sempre achei que fosse uma garota mimada e que provavelmente não saberia me virar sozinha. Então como eu iria me virar se eu precisasse contar apenas comigo?

Mandei um e-mail para o meu padrinho explicando que gostaria de passar esse final de semana no apartamento dele na praia. Ele estava viajando e só viu meu e-mail quando retornou brevemente ao local de trabalho na sexta-feira e me perguntou se eu ainda estava interessada em ir. Nessa hora minha ansiedade estava querendo mostrar as asinhas, mas não havia muito tempo para isso. Era pegar ou largar. Em menos de três horas eu já tinha arrumado a mala, tomado banho, atualizado o que precisava atualizar, respondido quem precisava responder e tinha seguido rumo à rodoferroviária. Encontrei-me com ele às 17h10, e às 17h45 seguimos para a praia. Na sexta-feira ele ficou comigo, conversamos, comemos pizza e no sábado de manhã, logo cedo ele havia deixado o apartamento e me vi sozinha pela primeira vez.

No começo, tranquilo. Fiquei estudando umas questões de matemática para um concurso, troquei de roupa, fui comprar meu almoço, voltei, almocei, vi um pouco de TV e começou a me bater um sono. Não queria dormir, queria estar atenta a todos os pensamentos que rondavam a minha mente. Saí um pouco, bati perna pelas ruas, apenas reparando nas lojinhas e nas pessoas que evitavam caminhar na chuva. Me permiti caminhar sob a garoa. Voltei para o apartamento e não sabia o que fazer. Começava a querer me bater o desespero. Comecei a resolver palavras cruzadas, pratiquei um pouco de yoga no chão duro e voltei meus olhos para a TV novamente. Chorei um pouco, voltei a caminhar. A noite foi tranquila, vi filme e fui dormir relativamente cedo.

Nesse tempo pude notar algumas coisas que me fizeram rir de mim mesma: pensar algumas boas vezes se eu havia fechado mesmo a porta antes de sair, se eu esquecera alguma lâmpada acesa, ou se eu tinha desligado o gás. Coisas com as quais eu nunca fiquei muito preocupada em casa. Parece um daqueles momentos que você nota que responsabilidades podem te deixar um pouco paranoico.

Originalmente publicado em Tudo é silêncio.