sexta-feira, 28 de setembro de 2012

AS CORES DOS AMIGOS


Há o amigo "cor verde" : é aquele que em tudo ressalva a beleza da Vida e põe esperança nela. Ele nos ergue !

Há o amigo "cor azul" : ele sempre traz palavras de paz e de serenidade, dando-nos a impressão, ao ouvi-lo, de que estamos em contato direto com o céu ou com o profundo azul do mar.

Há o amigo "cor amarela" : ele nos aquece, assim como o sol; nos faz rir, sorrir e enxergar o amarelo brilho das estrelas bem ao alcance das nossas mãos.

Há o amigo "cor vermelha" : é aquele que domina as regras de viver, é como nosso sangue. 
Ele acusa perigos, mas nunca nos abala a coragem. É pródigo em palavras apaixonadas e repletas de caloroso amor.

Há o amigo "cor laranja" : ele nos traz a sensação de vigor, saúde, enriquece nosso espírito com energias que são verdadeiras vitaminas para o nosso crescimento.

Há o amigo "cor cinza" : ele nos ensina o silêncio, a internalização e o autoconhecimento. É um indutor a pensamentos e reflexões. Ajuda-nos a nos aprofundarmos em nós mesmos.

Há o amigo "cor roxa" : ele traz à tona nossa essência majestosa, como a dos reis e dos magos. Suas palavras tem nobreza, autoridade e sabedoria.

Há o amigo "cor preta" : ele é mestre em mostrar nosso lado mais obscuro, com palavras geralmente duras, atinge-nos sem "anestesia" e , com boas intenções, leva-nos a melhor considerar nossas atitudes perante a vida.

... e há o amigo "cor branca" : esse nos revela verdades nascidas da vivência e da incorporação de conhecimentos. Ele nos aprova que, não só ele, mas também todos os outros, tem verdades aprendidas para partilhar conosco.

Que bom termos amigos de todas as cores formando uma maravilhosa aquarela.

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Quando vier a Primavera


Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" 
Heterónimo de Fernando Pessoa

sábado, 22 de setembro de 2012

Não existe

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E por mais que conheçamos todas as teorias e ideias sobre a morte e o não sofrimento, por mais que acreditemos e aceitemos que a única certeza da vida é a morte, não há preparo que nos conforte completamente a respeito da perda. Mas a vida segue, dia após dia, e seguimos acreditando que agora há mais anjos no céu, cuidando da gente.
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segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Preparação para a morte existe?

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Será errado preparar-se para a morte? Não me refiro a escolher o próprio caixão nem nada, mas é errado preparar-se para a morte de alguém que ainda está vivo, mesmo que com muitas dificuldades na UTI? É errado ter o coração quieto mesmo com tantas inquietações ao redor? Será que esse é o meu aprendizado dando certo, controlar a mente e aceitar que a morte faz parte da vida e é a nossa única certeza durante ela? Às vezes me sinto culpada por estar assim, sem reação. Ao ver minha avó eu choro muito, detesto vê-la naquele estado, mas mesmo assim meu coração está tão quieto, como se algo bom estivesse pra acontecer. Não sei. Talvez seja só coisa da minha cabeça.
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sábado, 15 de setembro de 2012

Escrever para espantar fantasmas

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Sala de espera. Espera. Abre-se uma porta, alguém anuncia que um novo dia começa. Quarto 601... quarto 615. Nossa vez. Guardo a bolsa no guarda-volumes, lavo bem as mãos, finalizo a higiene com álcool gel. E então caminhamos. Quarto 601, 602... 615. Caminhar por entre os quartos é uma tortura. Bip. Bip. O barulho de todas aquelas máquinas é assustador. (Mas claro que ao passar dos dias você acaba se acostumando a eles). Chegamos ao 615 e é simplesmente devastador, aqueles olhos me olhando e eu não sei se me identificam ou se tem medo. Ela cobre o corpo com o que encontra pela frente. Ela olha assustada para os enfermeiros. Ela dorme. Dorme um sono profundo e então eu me sinto a vontade para chorar. Dói muito, mas deve doer mil vezes mais nela. Meia hora de passa, você recebe um diagnóstico. Piorou um pouco. Melhorou um pouco. Piorou. Está estável, mas ainda é crítico. Depois de tantos diagnósticos você sabe que a única coisa que tem pra fazer é esperar. Esperar o que for melhor.
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terça-feira, 11 de setembro de 2012

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Dores, cada um tem as suas. Mas o que nos faz cultivá-las por décadas? Creio que nos apegamos com desespero à elas por não ter o que colocar no lugar, caso a dor se vá. E então se fica ruminando, alimentando a própria “má sorte”, num processo de vitimização que chega ao nível do absurdo. Porque fazemos isso conosco?Amadurecer talvez seja descobrir que sofrer algumas perdas é inevitável, mas que não precisamos nos agarrar à dor para justificar nossa existência.
Martha Medeiros 

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A vida nada doce III - Desarmonia

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Inicialmente, deixem me explicar, apesar de ter um amigo lindo que entende de música, eu, particularmente, não entendo absolutamente nada. A única coisa que sei é o que sinto cada vez que escuto alguma música. Cada uma me traz algum tipo de recordação ou sentimento. E pensando em música eu vi que no momento minha família é como uma música sem harmonia. Sabe quando você escuta uma música e percebe que tem alguma coisa errada, que quem a escreveu não estava nos seus melhores dias, que a voz do cantor ficou ruim ou que a melodia não encaixa com a letra? Então, minha família está assim, como uma nota de piano que não toca mais. Estamos tão mentalmente cansados que nada útil tem saído de nossos pensamentos. Brigamos. Choramos. Antecipamos. Sofremos. E ainda não conseguimos pensar que o melhor é dar um passo de cada vez em vez de ficar tentando imaginar como será o próximo dia. Será que é tão difícil que nós percebamos que está complicado pra todo mundo e que precisamos nos unir ao invés de brigar? Será que é tão difícil ver que talvez o que estejamos fazendo é tão pequeno perto do que outras pessoas fazem? Às vezes eu acho que somos todos tão imaturos e tão sozinhos. Cada um se esconde onde pode e evita falar qualquer coisa. Ninguém pede desculpa. Todo mundo é teimoso. E eu me sinto numa corda bamba com medo de falar qualquer coisa e ouvir: "e o que você sabe disso?". Então continuamos assim, um piano quebrado largado em qualquer canto e nenhuma melodia bonita pra nos impulsionar a consertá-lo.
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domingo, 9 de setembro de 2012


“Um velho monge e um jovem monge estavam andando por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando um
a bela jovem, que esperava na margem, aproximou-se deles. A moça estava vestida com muita elegância, abanava o leque e piscava muito, sorrindo com seus olhos muito grandes.

– Oh – ela disse -, a correnteza é tão forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono vai se estragar se eu o molhar. Será que vocês podem me carregar até o outro lado do rio?

E ela se insinuou sedutora para o lado do monge mais jovem.

O jovem monge não gostou do comportamento daquela moça mimada e despudorada. Achou que ela merecia uma lição. Além do mais, monges não deveriam se envolver com mulheres. Então, ele a ignorou e atravessou o rio. Mas o monge mais velho deu de ombros, ergueu a moça e a carregou nas costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram caminhando pela estrada.

Embora andassem em silêncio, o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela moça mimada. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido às regras dos monges. O jovem reclamava e vociferava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo montanhas e atravessando campos. Finalmente, ele não agüentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio carregando a moça. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.

– Ora, ora – disse o velho monge. – Você ainda está carregando aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.

E, dando de ombros, continuou a caminhar.”

sábado, 8 de setembro de 2012

Meditação para a semana - Aceitando o passado


por Leandro Castello Branco

Respire longamente por cinco vezes e repita pausadamente:

Que eu possa ter coragem de mudar aquilo que pode ser mudado.
Que eu possa ter serenidade para aceitar com alegria aquilo que não pode ser mudado.
Que eu possa ter a sabedoria para distinguir entre os dois.
Que eu possa me desligar do passado, pois não posso mudá-lo.
Quando culpo alguém por algo que foi feito, isto me prende.
Que eu possa me desligar da culpa. O que aconteceu é um fato, e permanece como um fato.
Quando eu me apego à tristeza do que foi feito, eu mesmo me prendo.
Não há nada que eu possa fazer. Não há porquê alimentar remorso, ressentimento ou raiva.
Que eu não tente mudar, através destes sentimentos, aquilo que não pode ser mudado.
Que eu tenha a força para desejar e preencher o meu desejo.
Que eu possa fazer o esforço adequado para mudar o que posso.
Mudar o meu futuro, à luz do passado, está ao meu alcance.
Que eu possa não ter confusão com relação ao que posso e não posso mudar.
Vivendo o presente, eu me liberto de todas as mágoas, frustrações e fracassos.
Me liberto também das pressões das vitórias e glórias passadas.
Eu sou aquilo que sou.
E vivendo o presente eu sou livre.
Om Tat sat.

(adaptado de uma das meditações de Swami Dayananda Saraswati)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Metáforas

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Para quem não pratica Hatha Yoga, ao final do Pranayama (exercício respiratório) e dos Ásanas (posturas), nós temos o Samádhi (percepção de si), depois de uma hora de respiração controlada e exercícios posturais nós fazemos um relaxamento consciente. Hoje foi sobre estar na margem de um rio e imaginar como o rio era: fundo ou raso, largo ou estreito, transparente ou lodoso, calmo ou turbulento. Você enxerga o rio de alguma forma e então a instrutora nos disse "aprenda com o rio, não importa como ele seja, ele sempre aprende a vencer os obstáculos". Foi tão ouvir aquilo, não sei, acho que era o que eu precisava ouvir hoje. E vocês, como andam enxergando o rio da vida de vocês? Saiba que sempre tem solução.
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A vida nada doce II - Novos dramas

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E voltamos ao que estávamos vivendo no começo do ano. Hospital. Internação. UTI. Vovó está internada com insuficiência renal e eu nunca a vi tão debilitada, assim como não a vi fazer tantas brincadeiras com os enfermeiros como ontem. Quando os rapazes da ambulância vieram buscá-la eles disseram "a senhora vai dar uma passeadinha?" e ela respondeu "não é a passeadinha que eu gosto, mas às vezes é preciso fazer um social". Por que ela não fica sempre assim brincalhona? Sorri enquanto ela dizia isso e chorei horrores ao vê-la sendo transportada na ambulância. Acho que é porque me faz lembrar de muita coisa. Dói. E dói quando os vizinhos ficam olhando com cara de espanto, dói quando um vizinho mais ousado vem perguntar se ela "arruinou-se". A minha avó pode ser a pessoa mais difícil que eu conheço, mas eu a amo muito e dói quando ouvimos isso. A tarde vamos visitá-la na UTI e espero encontrá-la mais corada.
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domingo, 2 de setembro de 2012

Dor

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dor
(ô), s. f. 1. Med. Sensação desagradável ou penosa, causada por um estado anômalo do organismo ou parte dele; sofrimento físico. 
2. Sofrimento moral. 
3. Dó; pena, compaixão. 
4. Remorso. 
S. f. pl. Pop. Os sofrimentos do parto
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Mais um domingo difícil. Às vezes eu fico sem saber o que fazer ou o que falar. Minha noite não foi tranquila, meu irmão saiu de noite, deixou minha mãe preocupada, e então ela ficou ligando pra ele desde às 3h da manhã e ele não atendeu o telefone, às 7h quando ela foi ver minha avó ela tinha sujado toda a cama, e tudo virou uma bola de neve e se acumulou e sobrou sujeira pra todo mundo. Nessas horas eu fico pensando, que saudades da nossa anja (nossa secretária do lar/enfermeira) que ficou conosco quase 7 anos até não aguentar mais, que saudades do padrinho que dividia as responsabilidades conosco. Sabe, minha avó teve três filhos, mas só dois tem cuidado dela, e agora um. O que cansa nessa história toda é toda a carga emocional que acompanha esses anos de cuidado. Não há um momento de folga, respiramos e pensamos na minha avó o dia todo, até esse blog que era pra falar de coisas da minha vida tem girado em torno dela. E é sobre isso que eu quero falar, da dor que eu sinto ao vê-la mal, da dor que eu sinto ao ver o quanto meus pais estão cansados emocionalmente, da dor que eu sinto de não poder contar com o resto da família, da dor que eu sinto toda vez que minha avó diz alguma coisa que nos ofende, da dor que eu sinto por não contar com o meu irmão. Mas toda essa dor tem me feito um bem também. Eu percebi que eu preciso cuidar de mim, que minha saúde é importante para que mais pra frente eu não seja dor para os outros e eu tomei atitudes que só a mim cabiam, como mudar alimentação, praticar alguma atividade física, ler aquilo que me faz bem, deixar de assistir o noticiário porque só tem desgraça, adicionar só coisa boa à minha vida, porque de dor já basta o que eu sinto ao ver qualquer pessoa doente quando levo minha avó ao hospital, ou quando eu levo ela ao hospital e vejo o quão inacessível são alguns lugares, ou como o tratamento das pessoas não é nada cordial, ou quando o banheiro não é adaptado e as pessoas idosas ou deficientes não conseguem usá-los ou ainda se machucam porque o piso está molhado. Tudo isso é dor. Não me dói fisicamente, mas meu coração fica tão apertado que eu sempre fico me perguntando, por que as coisas são assim? Por quê?
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